domingo, 26 de setembro de 2010

Membro do GEF defenderá dissertação

No próximo dia 30 de setembro, quinta-feira, Poliana Lachi, membro do Grupo de Estudos Foucaultianos da UEM, defenderá publicamente sua dissertação de mestrado, intitulada "Um corpo de sentidos: discurso, subjetividade e mídia". A defesa começará às 14h00min e contará com uma banca formada pela Profa. Dra. Kátia Menezes de Souza, da UFG, e pela Profa. Dra. Maria Célia Cortez Passetti, da UEM, além, é claro, do orientador do trabalho, o líder do GEF, Prof. Dr. Pedro Navarro.
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

PLE promove palestra sobre Foucault

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O Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Maringá convida todos os interessados a participarem da palestra "A Ordem do Discurso (Corpo, Língua, Imagem) em Textos Midiáticos: ressonâncias foucaultianas", a ser conduzida pelo Prof. Dr. Pedro Navarro, líder do GEF, e pela Profa. Dra. Kátia Menezes de Souza, da UFG. A palestra acontecerá no dia 30 de setembro de 2010 das 8h00min às 12h00min. As inscrições vão até o dia 29/09/2010 e custam R$10,00.
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GEF-UEM é credenciado pelo CNPq

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O Grupo de Estudos Foucaultianos da UEM já recebeu o credenciamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Para ter acesso às diretrizes de pesquisa do Grupo, às linhas de pesquisa e também ao currículo de seus participantes, acesse o link a seguir:

http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0329801Z7GS29I

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A Arqueologia do Saber: As Regularidades Discursivas (Parte 3)

_RESUMO_

FOUCAULT, M. As Regularidades Discursivas. In: ________. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. pp. 21-85.

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A Formação dos Conceitos

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“Antes que querer repor os conceitos em um edifício dedutivo virtual, seria necessário descrever a organização do campo de enunciados em que aparecem e circulam” (2008, p. 62). Essa organização compreende:

A) As formas de sucessão, as diversas disposições das séries enunciativas, os diversos tipos de correlação, os diversos esquemas: “A história natural, nos séculos XVII e XVIII, não é simplesmente uma forma de conhecimento que deu uma nova definição aos conceitos de ‘gênero’ ou de ‘caráter’ e que introduziu conceitos novos como o de ‘classificação natural’ ou de ‘mamífero’; é, antes de tudo, um conjunto de regras para dispor em série enunciados, um conjunto obrigatório de esquemas de dependências, de ordem e de sucessões em que se distribuem os elementos recorrentes que podem valer como conceitos” (2008, p, 63).

B) Formas de coexistência (campo de presença, campo de concomitância, domínio de memória).

C) Procedimentos de intervenção (técnicas de reescrita, métodos de transcrição, modos de tradução, aproximação, delimitação, transferência, a sistematização e a redistribuição).

“O que pertence propriamente a uma formação discursiva e o que permite delimitar o grupo de conceitos, embora discordantes, que lhe são específicos, é a maneira pela qual esses diferentes elementos estão relacionados uns aos outros: a maneira, por exemplo, pela qual a disposição das descrições ou das narrações está ligada às técnicas de reescrita”, etc. (2008, p. 65-6).

“Tal análise refere-se, pois, a um nível de certa forma pré-conceitual, ao campo em que os conceitos podem coexistir e às regras às quais esse campo está submetido” (2008, p. 66). “O nível ‘pré-conceitual’ assim descrito, em lugar de delinear um horizonte que viria do fundo da história e se amnteria atravé dela, é, pelo contrário, no nível mais ‘superficial’ (no nível dos discursos), o conjunto de regras que aí se encontram efetivamente aplicadas” (2008, p. 69).

“O campo pré-conceitual deixa aparecerem as regularidades e coações discursivas que tornaram possível a multiplicidade heterogênea dos conceitos, e, em seguida, mais além ainda, a abundância desses temas, dessas crenças, dessas representações às quais nos dirigimos naturalmente quando fazemos a história das idéias” (2008, p. 70).

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A Formação das Estratégias

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De antemão, há certa dificuldade de demarcar a formação das estratégias (temas e teorias), visto que Foucault admite não tê-los tratado especificamente em seus trabalhos anteriores à Arqueologia;

1ª direção: Pontos de difração: pontos de incompatibilidade, pontos de equivalência e pontos de ligação de uma sistematização;

Pontos de incompatibilidade: onde dois objetos, tipos de enunciação ou conceitos distintos não podem ocupar o mesmo lugar em uma série de enunciados (FOUCAULT, p. 73); no caso em que isso acontecer, corre-se o risco de gerar a contradição;

Pontos de equivalência: há a incompatibilidade entre os objetos, mas as condições de aparecimento destes são as mesmas;

Pontos de ligação de uma sistematização: cadeia de novos objetos, conceitos e tipos de enunciação que são dados a partir de determinados temas e teorias.

2ª direção: Determinação de uma economia da constelação discursiva: relação entre certas práticas discursivas e um domínio maior de regras de formação que determinam seu funcionamento, podendo servir como modelo concreto num nível de abstração mais elevado ou um sistema formal que indica bases de aplicação para outros discursos.

3ª direção: Estabelecimento de relação entre as práticas discursivas e as práticas não discursivas: regime e processos de apropriação do discurso e as posições possíveis do desejo em relação ao discurso. Não se trata de entender essas relações com as práticas não discursivas como extrínsecas às formações discursivas, mas sim como elementos também formadores.

“Ao final, Foucault sintetiza as oposições elencadas no desdobrar de suas quatro hipóteses sobre os agrupamentos discursivos e o funcionamento das regras de formação:

[...] E assim, como não seria preciso relacionar a formação dos objetos nem às palavras nem às coisas, a das enunciações, nem à forma pura do conhecimento nem ao sujeito psicológico, a dos conceitos, nem à estrutura da idealidade nem à sucessão das idéias, não é preciso relacionar a formação das escolhas teóricas nem a um projeto fundamental nem ao jogo secundário das opiniões (FOUCAULT, p. 78).

Podemos nos questionar, daí, sobre o que haveria de semelhante entre as palavras, as coisas, a forma pura do conhecimento, o sujeito psicológico, a estrutura da idealidade, a sucessão das ideias, um projeto fundamental e um jogo de opiniões, a ponto de serem todos negados na empreitada que pressupõe a demarcação de uma formação discursiva. De modo geral, devemos entender em todos esses conceitos e fenômenos o fechamento da prática discursiva ora a algo que é exterior ao discurso e que determina definitivamente todo seu movimento, ora um teor de escolha que é depositado nas mãos de um único indivíduo, ou ainda conceitos e teorias que preexistem à própria prática e que esperam para serem ativados. Em todos esses casos, a regularidade do discurso é dada pelo seu caráter local, fundante, homogêneo, e, de modo oposto, Foucault insiste, continuadamente, na dispersão.”

A Arqueologia do Saber: As Regularidades Discursivas (Parte 2)

_RESUMO_

FOUCAULT, M. As Regularidades Discursivas. In: ________. A Arqueologia do Saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. pp. 21-85.

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A Formação dos Objetos

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Foucault (2008b) nos oferece três direções para a análise da formação dos objetos. Elas competem a análise das:

1 – Superfícies de emergência;

2 – Instâncias de delimitação;

3 – Grades de especificação (diferenciação);

Contudo, Foucault insiste no fato de que elas não oferecem objetos que a ciência simplesmente relaciona, classifica, nomeia, elege e recobre: “O discurso é algo inteiramente diferente do lugar em que vêm se depositar e se suporpor, como uma simples superfície de inscrição, objetos que tenham sido instaurados anteriormente” (208, p. 48).

Esses planos de diferenciação aparecem isolados à primeira vista. Mas que relação podemos estabelecer entre eles? “E como podemos falar de um ‘sistema de formação’ se conhecemos apenas uma série de determinaçãoes diferentes e heterogêneas, sem ligações ou relações assinaláveis?” (2008, p. 48).

Deve-se, ao invés de tratar 1, 2 e 3 separadamente, estabelecer entre eles relações determinadas: entre os planos de especificação, entre as instâncias de delimitação e entre as grades de diferenciação: “São essas relações que, atuando no discurso psiquiátrico, permitiram a formação de todo um conjunto de objetos diversos” (p. 49).

“Generalizemos: o discurso psiquiátrico, no século XIX, caracteriza-se não por seus objetos privilegiados, mas pela maneira pela qual forma seus objetos, de resto muito dispersos. Essa formação é assegurada por um conjunto de relações estabelecidas entre instâncias de emergência, de delimitação e de especificação. Diremos, pois, que uma formação discursiva se define (pelo menos quanto a seus objetos) se se puder estabelecer um conjunto semelhante; se se puder mostrar como qualquer objeto do discurso em questão aí encontra seu lugar e sua lei de aparecimento; se se puder mostar que ele pode dar origem, simultânea ou sucessivamente, a objetos que se excluem, sem que ele próprio tenha de se modificar” (2008, p. 49-50).

Observações e consequências:

Não se pode dizer qualquer coisa, já que há um sistema de relações que regulam a existência ou extinção dos objetos, mas isso não é um obstáculo: “o objeto não espera nos limbos a ordem que vai liberá-lo e permitir-lhe que se encarne em uma visével e loquaz objetividade; ele não preexiste a si mesmo, retido por algum obstáculo aos primeiros contornos da luz, mas existe sob as condições positivas de um feixe complexo de relações” (2008, p. 50).

O conjunto de relações que determinam os objetos não definem a constituição interna do objeto, “mas o que lhe permite aparecer, justapor-se a outros objetos, situar-se em relação a eles, definir sua diferença, sua irredutibilidade e, eventualmente, sua heterogeneidade; enfim, ser colocado em um campo de exterioridade” (2008, p. 50-1).

Há relações primárias ou reais, relações secundárias ou reflexivas e então o sistema das relações discursivas. “O problema é fazer com que apareça a especificidade dessas últimas e seu jogo com as outras duas” (2008, p. 51).

As relações discursivas não são nem interiores nem exteriores ao discurso. Elas estão no limite do discurso e “determinam o feixe de relações que o discurso deve efetuar para poder falar de tais ou tais objetos, para poder abordá-los, nomeá-los, analisá-los, classificá-los, explicá-los, etc. Essas relações caracterizam não a língua que o discurso utiliza, mas as circunstâncias em que ele se desenvolve, mas o próprio discurso enquanto prática” (2008, p. 51-2).

“Em uma palavra, quer-se, na verdade, renunciar às ‘coisas’, [...] definir esses objetos sem referência ao fundo das coisas, mas relacionando-os ao conjunto de regras que permitem formá-los como objetos de um discurso e que constituem, assim, suas condições de aparecimento histórico; fazer uma história dos objetos discursivos que não os enterre na profundidade comum de um solo originário, mas que desenvolva o nexo das regularidade que regem sua dispersão” (2008, p. 53-4).

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A Formação das Modalidades Enunciativas

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A) Quem fala? à status de quem tem o direito a pronunciar o enunciado.

B) De onde se fala? à definir os lugares institucionais de onde o sujeito enunciador obtém seu discurso.

C) “As posições sujeito se definem igualmente pela situação que lhe é possível ocupar em relação aos diversos domínios ou gupos de objetos: ele é sujeito que questiona, segundo uma certa grade de interrogações explícitas ou não, e que ouve, segundo um certo programa de informação, é sujeito que observa, segundo um quadro de traços característicos, e que anota, segundo um tipo descritivo, está situado a uma distância perceptiva ótica cujos limites demarcam a escala da informação, deslocam o sujeito em relação ao nível perceptivo médio ou imediato, asseguram sua passagem de um nível superficial a um nível profundo, o fazem circular no espaço interior do corpo” (2008, p. 58).

O status do enunciador, os lugares institucionais e as posições sujeito se dão na relação entre o discurso e um certo número de elementos distintos (vindos de outros lugares institucionais) que circundam a prática discursiva. Contudo, esse jogo de relações não é dado a priori, mas se estabele na própria prática discursiva: “Pode-se dizer que esse relacionamento de elementos diferentes (alguns são novos, outros, preexistentes) é efetuado pelo discurso clínico; é ele, enquanto prática, que instaura entre eles todo um sistema de relações que não é ‘realmente’ dado nem constituído a priori; e se tem uma unidade, se as modalidades de enunciação que utiliza, ou às quais dá lugar, não são simplesmente justapostas por uma série de contingências históricas, é porque emprega, de forma constante, esse feixe de relações” (2008, p. 60).

“O discurso, assim concebido, não é a manifestação, majestosamente desenvolvida, de um sujeito que pensa, que conhece, e que o diz: é, ao contrário, um conjunto em que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si mesmo. É um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos. Ainda há pouco mostramos que não eram nem pelas ‘palavras’ nem pelas ‘coisas’ que era preciso definir o regime dos objetos característicos de uma formação discursiva; da mesma forma é preciso reconhecer, agora, que não é nem pelo recurso a um sujeito transcedental nem pelo recurso a uma subjetividade psicológica que se deve definir o regime de suas enunciações” (2008, p. 61).