O
Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS) e o Grupo
de Teoria do Discurso (GTDIS) da Universidade Federal Fluminense
(UFF) realizarão, nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho de 2012, o
III Simpósio
Grupo de Teoria do Discurso: “Discurso,
Resistência e...”.
Informações e inscrições através do site: http://www.uff.br/las/index.php?option=com_content&view=article&id=40&Itemid=31 .
sábado, 28 de abril de 2012
Líder do GEF coordenará simpósio no 2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários
O
Prof. Dr. Pedro Navarro, líder do Grupo de Estudos Foucaultianos da UEM
(GEF/UEM/CNPq), coordenará, em parceria com o Prof. Dr. Carlos Piovezani, o
simpósio “Discurso e sujeito: abordagens teórico-analíticas em torno da subjetividade, do corpo e da fala pública” no 2º CIELLI - Colóquio
Internacional de Estudos Linguísticos e Literários. O evento é um dos mais
importantes do país nas áreas de Estudos Linguísticos e Estudos Literários e
reúne pesquisadores do Brasil e do exterior. O evento ocorrerá no período de 13
a 15 de junho de 2012 na Universidade Estadual de Maringá (UEM), em Maringá-PR.
Para ver a programação completa do evento, acesse: http://www.cielli.com.br/ .
X CELSUL - Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
Nos
dias 24, 25 e 26 de outubro a Universidade Estadual do Oeste do
Paraná (UNIOESTE) sediará o X CELSUL -
Círculo de Estudos Linguísticos do Sul.
As inscrições de comunicações orais para os Grupos Temáticos e
Painéis podem ser feitas de 20
de abril a 04 de junho de 2012. Maiores informações no site: http://celsul.org.br/2012/ .
I Seminário Internacional de Estudos da Linguagem
De 14 a
16 de maio ocorrerá, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE), o I Seminário Internacional de Estudos da
Linguagem, com o
tema “Políticas Linguísticas: diálogos, identidades e
fronteiras”. O prazo de inscrições com apresentação de trabalho
foi prorrogado até o dia 03/05/2012. Mais informações no site: http://www.snel.tmp.br/home/ .
sexta-feira, 27 de abril de 2012
III CIAD - Colóquio Internacional de Análise do Discurso
A
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) promoverá, do dia 24 ao
dia 26 de setembro de 2012, o III CIAD - Colóquio Internacional de
Análise do Discurso. Informações sobre inscrição (grupos de
pesquisa e painéis) e programação poderão ser obtidas no site: http://www.ciad2012.com/ .
Foucault: o pensamento, a pessoa
Orientação: Prof. Dr. Pedro Navarro
Organização:
Alessandro Alves da Silva
_____________________________________________________
Foucault: o pensamento, a pessoa
Paul Veyne
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Não, Foucault não era um pensador estruturalista.
Também não foi fruto de um certo <<pensamento de 1968>>; não era
mais relativista do que historicista, nem do gênero de farejar ideologia por
toda a parte (Paul Veyne).
A postura epistemológica de Foucault não consistia em reduzir
o real ao discurso, mas em lembrar que, desde que um real é enunciado, ele já está
sempre discursivamente estruturado.
Nesse sentido, a afirmação da irredutível diversidade das colocações em discurso
não implicava nenhum idealismo que reduzisse a realidade ao pensamento, nenhum
relativismo ontológico (SCHAFFER apud
VEYNE, 2011, p. 85).
N
|
o livro “Foucault:
o pensamento, a pessoa”, Paul Veyne inicia os seus apontamentos dizendo que
Michel Foucault não era nem estruturalista, nem niilista, nem fruto de algumas
convenções da ciência da época. Embora Foucault estivesse imerso em meio ao
estruturalismo europeu da época, ele não era estruturalista.
Paul Veyne e Michel Foucault eram amigos e Veyne revisava os textos de
Michel Foucault, fazendo, inclusive, apontamentos em relação às ideias do
filósofo francês. Aos que acusavam Foucault de ser estruturalista, Veyne (2011)
nos mostra que ele não estava preocupado em saber se um discurso era verdadeiro
ou não, se era objetivo ou não, mas sim de perceber as condições de emergência
dos saberes e dos poderes.
Ele também diz que
Foucault não foi inimigo do homem e do sujeito humano
que se julgou que fosse; considerava, simplesmente, que este sujeito não podia
fazer cair do céu uma verdade absoluta, nem agir soberanamente na constelação
das verdades (VEYNE, 2011, p. 06).
Tanto em A gramática do homicídio (2008)
quanto em A vida dos homens infames
(2006) podemos perceber que a “morte do homem” aponta para o fato de que ele
não é a origem adâmica do seu dizer – ele não é um adão linguístico do qual
nasceriam discursos. Ele é falado, é descentrado em meio aos vários saberes e
poderes que o constituem como sujeito.
Quando Foucault[1]
publicou a sua História da Loucura,
Veyne e outros historiadores viram este livro, de certa forma, como um livro
ordinário qualquer que se dedicava a mostrar que os conceitos ou ideias de
loucura variaram ao longo dos séculos. Eles, de certo modo, não perceberam que
este livro se dedicava, dentre outras coisas, às condições de emergência dos
saberes com tipos específicos de poderes.
Pensamos as coisas humanas através de coisas gerais
que julgamos adequadas, quando nada do que é humano é adequado, racional ou
universal. E isto surpreende e inquieta o nosso bom senso (VEYNE, 2011, p.
14-15).
Veyne nos diz que a pesquisa foucaultiana trabalha com a verdade através
dos tempos e que cada um só pode pensar conforme a sua época; conforme o seu
aquário. Relendo Veyne e Foucault, percebemos que é nítida a preocupação de
Foucault com as condições de emergência dos saberes e dos poderes nos discursos
do ocidente.
Ainda no que se refere à questão da verdade em Foucault, Veyne (2011, p.
16) cita Nietzsche, Wittgenstein, Willian James, Austin, Ian Hacking, e muitos
outros, dizendo que “o conhecimento não pode ser o espelho fiel da realidade”. Isso quer dizer que não há uma relação direta
entre as palavras e as coisas, entre a linguagem e o mundo, entre o
conhecimento e o mundo. Tudo isso é mediado pelo discursivo.
“A” verdade ou “o verdadeiro da época” ou o “efeito de verdade” – as
nomenclaturas variam – podem ser entendidos em Foucault como o que se está
relativamente bem assentado nas regras de formação de um discurso.
O que é então que Foucaul entende por discurso? Algo
muito simples: é a descrição mais precisa, mais concisa de uma formação
histórica em sua nudez, é a atualização de sua última diferença individual. Ir
assim até a differentia ultima de uma
singularidade datada exige um esforço intelectual de aparcepção: é preciso
despojar o acontecimento dos drapeados demasiados amplos que o banalizam e
racionalizam (VEYNE, 2011, p.16-17).
O discurso é uma prática que se
relaciona a uma função enunciativa relacionada a um grupamento de enunciados em
sua relação saber/poder. O objeto de discurso, ou seja, o que é falado pelo
discurso (o idoso, o executivo, o professor e o aluno, etc) vai sendo
construído discursivamente por meio de saberes. A escrita de si – quando um
sujeito resolve escrever sobre si – também é atravessada por saberes.
A cada época, os contemporâneos estão, portanto, tão
encerrados em discursos como em aquários falsamente transparentes, e ignoram
que aquários são esses e até mesmo o fato de que há um. As falsas generalidades
e os discursos variam ao longo do tempo; mas a cada época eles passam por
verdadeiros. De modo que a verdade se reduz a um dizer verdadeiro, a falar de maneira conforme ao que se admite ser
verdadeiro e que fará sorrir um século mais tarde (VEYNE, 2011, p. 25).
A citação acima nos aponta para o fato de que Foucault trabalhava a
verdade através dos tempos, mas ele não estava preocupado em saber se um
discurso era verdadeiro ou não, pois sabia que as verdades variam de acordo com
o a priori histórico (aquário de
determinada época que engloba tudo). Os discursos de cada época estão
encerrados dentro destes aquários, e para se analisar um discurso é preciso
levar em consideração alguns processos teóricos e metodológicos.
Explicitar um discurso, uma prática discursiva,
constituirá em interpretar o que as pessoas faziam ou diziam, em compreender o
que supõem seus gestos, suas palavras, suas instituições, coisa que fazíamos a
cada minuto: nós nos compreendemos entre nós. O instrumento de Foucault será,
portanto, uma prática cotidiana, a hermenêutica, a elucidação do sentido
(VEYNE, 2011, p. 26).
O discurso, em Foucault, tem, portanto, um caráter semiológico, pois não
se prende apenas à materialidade linguística. Ele considera outras materialidades
discursivas: imagens, gestos, etc.
Mesmo que não esteja oculto, o enunciado não fica
visível; ele não se oferece à percepção como o portador manifesto de seus
limites e de suas características. É preciso uma certa conversão do olhar e da
atitude para poder reconhecê-lo e considerá-lo em si mesmo. Talvez ele seja
demasiadamente conhecido que incessantemente se furta, talvez ele seja [uma]
transparência demasiadamente familiar (SCHNEIDER, 2004, p. 145 apud VEYNE, 2011, p. 31).
Este enunciado precisa ser “escavado” pelo analista de discursos, dadas
as relações de saber e de poder inerentes a ele. Tomando como exemplo o
enunciado verbal, em formato de slogan
publicitário, intitulado “Danoninho vale por um bifinho” (coletado por Sírio
Possenti), se fossemos fazer uma análise linguística do mesmo, diríamos,
talvez, que temos dois substantivos (nomes) no diminutivo, um verbo com
significação plena, uma preposição e um artigo indefinido. Relacionaríamos,
talvez, esta análise linguística com as questões de sentido inerentes ao
enunciado, mas nossa análise deixaria de lado as relações saber/poder.
O problema é que este enunciado não é algo que fica preso apenas às
estruturas linguísticas (ao sintagma e aos seus complementos, por exemplo).
Mesmo lendo e analisando a estrutura linguística deste enunciado, deixaríamos
de fora as relações de saber e de poder que o constituem como enunciado. É isso
o que Michel Foucault propõe em seu método arqueogenealógico de análise de
discursos: descrever as relações de saber e poder.
Portanto, face ao método arqueogenealógico de análise de discursos
proposto pelo filósofo francês Michel Foucault, percebemos que cabe ao analista
de discursos descrever as relações de saber e poder inerentes aos enunciados,
sejam eles verbais, imagéticos, etc.
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, M. A Vida dos Homens
Infames. In: FOUCAULT, M. Estratégia,
Poder-Saber. 2ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2006. (p. 203-222)
_____________. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2008.
ROUANET, S. P. “A gramática do
homicídio”. In: ROUANET, S. P.
& MERQUIOR, J.G. (orgs.) O homem e o discurso. A arqueologia de
Michel Foucault. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2008, p. 91-139.
VEYNE, P. Foucault: seu
pensamento, sua pessoa. Trad. Marcelo Jacques de Morais. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011, p. 01-39.
[1]
Foucault nos mostra, em seus textos, que somos o que as práticas discursivas
produzem sobre nós. Colocando esta asserção em termos práticos, podemos citar o
exemplo do sujeito executivo. A ideia de um sujeito executivo “comprometido,
interessado, obstinado e realizador” (NAVARRO e SILVA, 2012) não “caiu do céu”,
nem é fruto da “bruma dos tempos”, mas foi sendo assentada na ordem dos
discursos por meio de práticas discursivas midiáticas e neoliberais, que são
atravessadas por vários saberes (medicina, psicologia, economia, direito, etc)
e que se constituem em poderes, que posicionam estes executivos como sujeitos
competitivos.
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